sexta-feira, 25 de abril de 2025

JONAS 3 e 4

A palavra do Senhor veio a Jonas pela segunda vez, com esta ordem:
─ Vá à gran­de cidade de Nínive e pregue contra ela a men­sagem que eu lhe darei.
Jonas obedeceu à palavra do Senhor e foi para Nínive. Era uma cidade muito gran­de, sendo necessários três dias para percorrê-la. Jonas entrou na cidade e a percorreu durante um dia, proclamando:
─ Daqui a quarenta dias Nínive será destruída.
Os ninivitas creram em Deus. Proclamaram um jejum e, todos eles, do maior ao menor, vestiram-se de pano de saco. Quando as notícias chegaram ao rei de Nínive, ele se levantou do trono, tirou o manto real, vestiu-se de pano de saco e sentou-se sobre cinzas. Então fez uma proclamação em Nínive:
─ Por decreto do rei e de seus nobres, não é permitido a nenhum homem ou animal, bois ou ovelhas, provar coisa alguma. Não comam, nem bebam! Cubram-se de pano de saco, homens e animais. E todos clamem a Deus com todas as suas forças. Deixem os maus caminhos e a violência. Talvez Deus se arre­penda, abandone a sua ira e não sejamos destruídos.
Tendo em vista o que eles fizeram e como abandonaram os seus maus caminhos, Deus se arrependeu e não os destruiu como tinha ameaçado.
Jonas, porém, ficou profundamente descontente com isso e enfureceu-se. Ele orou ao Senhor: 
─ Senhor, não foi isso que eu disse quando ainda estava em casa? Foi por isso que me apressei em fugir para Társis. Eu sabia que tu és Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que prometes castigar, mas depois te arrependes. Agora, Senhor, tira a minha vida, eu imploro, porque para mim é melhor morrer do que viver.
O Senhor lhe respondeu: 
─ Você tem alguma razão para essa fúria?
Jonas saiu de Nínive e sentou-se num lugar a leste da cidade. Ali, construiu para si um abrigo, sentou-se à sua sombra e esperou para ver o que aconteceria com a cidade.
Então o Senhor Deus fez crescer uma aboboreira sobre Jonas, para dar sombra à sua cabeça e livrá-lo do enfado do calor, o que deu grande alegria a Jonas. Mas na madrugada do dia seguinte, Deus mandou uma lagarta atacar a planta e ela ficou seca.
Ao nascer do sol, Deus trouxe um vento oriental muito quente e o sol bateu na cabeça de Jonas ao ponto de ele quase desmaiar. Com isso ele desejou morrer e disse:
─ Para mim seria melhor morrer do que viver.
Mas Deus disse a Jonas: 
─ Você tem alguma razão para estar tão furioso por causa da aboboreira?
Jonas respondeu:
─ Sim, tenho! E estou furioso ao ponto de querer morrer.
Mas o Senhor lhe disse: 
─ Você tem pena dessa planta, embora não a tenha podado nem a tenha feito crescer. Ela nasceu numa noite e numa noite morreu. Contudo, Nínive tem mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem nem distinguir a mão direita da esquerda, além de muitos rebanhos. Não deve­ria eu ter pena dessa grande cidade?

- JONAS 3 e 4.

quarta-feira, 23 de abril de 2025

UM CAVALHEIRO POR INSTINTO

TRECHOS DE UM DIÁRIO - O Cacique Seattle: Um cavalheiro por instinto 
- 10º artigo da série Primeiras Reminiscências de Henry Smith
Seattle Sunday Star, 29 de outubro de 1887.

O velho cacique Seattle era o maior índio que eu jamais havia visto. E o que tinha aparência mais nobre. Em seus mocassins, ele media mais de 1,80m, ombros largos, tórax amplo e traços finos. Seus olhos eram grandes, inteligentes, expressivos e amigáveis quando em repouso, espelhando fielmente os variados estados de espírito da grande alma que olhava através deles.
Normalmente era solene, calado e digno, porém nas grandes ocasiões movia-se na multidão como um Titã entre Liliputianos e o que ele dissesse era lei. Quando se levantava para falar, em reuniões, ou para oferecer conselho, todos os olhos se voltavam para ele. Então frases profundas, sonoras e eloquentes fluíam de seus lábios, assim como trovões de cataratas fluindo continuamente de fontes inexauríveis.
Suas diretrizes soavam tão nobres como teriam soado aquelas do mais cultivado chefe militar que estivesse no comando das forças de todo o continente. Nem sua eloquência, nem sua dignidade ou sua graça haviam sido adquiridas. Elas eram tão próprias da sua personalidade quanto as folhas e as flores o são em um pessegueiro em flor.
Sua influência era maravilhosa. Ele poderia ter sido um imperador, mas todos os seus instintos eram democráticos e ele comandava os seus leais cidadãos com suavidade e com paternal benignidade. Sempre era alvo de especial atenção pelo homem branco, principalmente quando sentado à sua mesa. Era nessas ocasiões que demonstrava, mais do que em qualquer outro lugar, o cavalheirismo que lhe era genuíno.
Assim que o Governador Stevens chegou a Seattle e disse aos nativos que tinha sido indicado Comissário para assuntos indígenas do território de Washington, estes lhe prepararam uma recepção em frente dos escritórios do Dr. Maynard, na margem próxima da Main Street.
A baía se enxameava de canoas enquanto a margem era tomada por uma morena e movimentada massa humana. Quando o timbre de trombeta da voz do velho cacique espalhou-se sobre a imensa multidão como o rufar de um tambor, formou-se um silêncio tão instantâneo e perfeito como aquele que segue o "crack" do trovão em um céu limpo.
Sendo então apresentado à multidão nativa pelo Dr. Maynard, em um tom conversacional, direto e objetivo, o Governador deu imediatamente início a uma explanação sobre sua missão, que é conhecida demais para que requeira recapitulação.
Quando ele se sentou, o cacique Seattle levantou-se com a dignidade de um senador que carrega em seus ombros a responsabilidade sobre uma grande nação. Colocando uma mão sobre a cabeça do Governador e lentamente apontando para o céu com o dedo indicador da outra, em tom solene e impressionante, começou seu memorável pronunciamento.

domingo, 6 de abril de 2025

JOÃO (Amadeu de Queiroz)

            Edição da Livraria do Globo, Porto Alegre, 1945.

 Este livro, cujo estilo procura aproximar-se do singelo e natural da gente da roça, foi escrito com o temerário propósito de se fazer um romance em que nada acontece de anormal.

Representando cenas e almas vulgares, pretende mostrar a ignorância, a simplicidade, a timidez e a lentidão do caipira roceiro. Mas a narrativa, ressentindo-se da vulgaridade do assunto, criou o problema da monotonia, que o autor tentou resolver por meio de casos folclóricos e paisagens naturais, salvo as destinadas ao esclarecimento da psicologia de certos personagens.

Evitando prejudicar a naturalidade da narrativa, o autor registrou, intencionalmente, muitas das nossas expressões dialetais, vários termos portugueses que ficaram dos primitivos colonizadores e alguns arcaísmos da língua em pleno uso entre a gente rústica.

CAPÍTULO 1

Sesquicentenário de AMADEU DE QUEIROZ

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