quinta-feira, 25 de abril de 2024

NOSSA HERANÇA PORTUGUESA

 
  "Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal; ainda vai tornar-se um imenso Portugal!"

Os brasileiros não devem incorrer no erro primário de acreditar que o Brasil é um país atrasado porque foi colonizado por Portugal. A grande América Portuguesa ainda é um país socialmente subdesenvolvido porque foi colonizado durante quatro séculos, independentemente de quem foi o algoz colonizador.
Bem ao contrário do que alguns imaginam, o contato com os portugueses foi em muitos aspectos bastante favorável aos brasileiros. Não seria exagero afirmar que, se não fosse a colonização portuguesa, talvez o Brasil tivesse se fragmentado e se transformado em várias pequenas guianas da periferia do continente.
No tempo das grandes navegações, no final do século XV, devido à sua posição geográfica favorável, Portugal era uma das nações mais avançadas do mundo na arte de navegar. O desenvolvimento de uma indústria náutica, simbolizada pelo mito da "escola de Sagres" do príncipe infante Dom Henrique, pode ser comparado por exemplo ao que hoje a NASA representa para o mundo. 
Com uma cultura miscigenada pelo intenso intercâmbio portuário e pela influência berbere na península ibérica, Portugal formou um estado nacional independente da Espanha e lançou-se aos quatro cantos do planeta, na sua missão aventureira de desbravar os oceanos.
Aprenderam com os árabes os segredos da navegação no hemisfério sul e assim alcançaram mundos distantes e desconhecidos – muito além da Taprobana, como relata Camões nos Lusíadas. 
Nesta cruzada marítima, dobraram o cabo da Boa Esperança e finalmente descobriram a rota "pacífica" para a Índia. Fincaram sua bandeira no Brasil, para em seguida atingir todos os continentes, chegando à China, ao Japão e à Austrália.
Embora Portugal fosse um país avançado na ciência da navegação, sua estrutura burocrática administrativa, tradicionalmente corrupta, foi corroída por homéricas falcatruas e malversações históricas. 
Após toda a saga heroica percorrida através dos sete mares do planeta, os portugueses acabaram pressionados e absorvidos por interesses das outras potências imperiais da Europa. Depois de um longo período de prosperidade, Portugal entrou no século XIX em um processo progressivo declínio econômico.
Ironicamente foi a ganância pelas riquezas do Brasil –especialmente o ouro de Minas Gerais – no contexto histórico do capitalismo internacional nascente, que corrompeu e levou a nação portuguesa à decadência. 
Não se pode negar que as profundas marcas das injustiças e crueldades praticadas durante todo o processo de colonização – que foi gerado, em síntese, por um regime de escravidão de índios locais e negros sequestrados da África – comprometeram as relações entre Brasil e Portugal durante muito tempo.
Tamanha tragédia, contudo, de alguma forma foi temperada por um peculiar bom humor do espírito português na  forma de encarar as vicissitudes da realidade. O lirismo franco e despojado, característico da uma filosofia de vida, favoreceu as relações com outros povos do mundo de costumes diversos.
Neste sentido, a transferência de toda a realeza lusitana para o Rio de Janeiro em 1808 foi um dos fatos mais pitorescos do início da Era Contemporânea – um acontecimento inédito na história das cortes europeias.
A própria declaração de independência do Brasil em 1822,  que acaba de completar 200 anos, proclamada pelo enigmático Dom Pedro I – uma espécie de déspota esclarecido tropical – soa como uma galhofa histórica.
De fato, a experiência da colonização portuguesa produziu no Brasil um sentimento contraditório: por um lado, na secular globalização mundial, o país está inclinado a sofrer o massacre das influências colonizadoras, seja da Europa ou dos Estados Unidos. 
Por outro lado, aos trancos e barrancos, os brasileiros lutam heroicamente para preservar um gigante legado cultural, defendendo valores consagrados por princípios humanísticos e conquistas históricas de autonomia e soberania.
Diferente da América espanhola, dividida em muitas províncias, a América portuguesa manteve seu território íntegro, de dimensões continentais, sob a mesma bandeira, a mesma língua e toda a riqueza da sua fulgurante miscigenação, que faz dos brasileiros um povo muito amistoso e diversificado.
Uma mistura de muitas etnias, enfim, semeada no ideal profético de se tornar "um laboratório do Espírito Santo" na Terra – um país predestinado a dar uma nova feição de humanidade ao mundo.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

PRESENÇA FRANCESA NAS AMÉRICAS

A França teve uma participação muito importante no processo de formação das três Américas, compartilhando os mesmos ideais políticos e culturais, através de uma sólida relação de respeito e admiração recíproca. Todo este legado histórico não é um patrimônio esquecido no passado, mas um desafio a inspirar as futuras gerações.
O idioma francês, por exemplo, foi incorporado em algumas colônias do Novo Mundo, como em boa parte do Canadá e em países insulares da região do Caribe – Martinica, San Martín e Haiti – e na Guiana Francesa.
Em grandes cidades tradicionais, como Nova Orleans, nos Estados Unidos, São Luís do Maranhão e Rio de Janeiro, no Brasil, os franceses tiveram uma presença determinante na sua fundação, nos primórdios do povoamento europeu.
No século XVIII, o desempenho militar da França – da Marinha, em especial – na memorável luta pela independência dos Estados Unidos foi um episódio definitivo na consolidação de uma amizade histórica entre os dois países.
Essa relação vai se refletir no aspecto artístico, onde a criação francesa também está presente na origem de dois ícones da indústria cultural americana do século XX, oferecendo os elementos básicos para os seu florescimento – o jazz e o cinema. 
As conexões da França com o Brasil, construídas desde o início do século XVI, foram entremeadas pelas circunstâncias da rivalidade com os colonizadores portugueses. Foi em resposta à tentativa dos franceses de conquistar territórios no Brasil que Portugal decidiu intensificar a ocupação da costa atlântica, estabelecendo fortificações ao longo do litoral brasileiro.
Já em 1808, quando o rei português João 6º veio para o Brasil para escapar da invasão do exército napoleônico, o estabelecimento de uma monarquia em solo americano trouxe características muito peculiares ao processo de estruturação administrativa do território brasileiro. 
Neste contexto muito específico dos acontecimentos históricos No início do século XIX na Europa, o reino de Portugal manteve unida toda a chamada América portuguesa, enquanto a parte espanhola do continente era fragmentada em diversas repúblicas autônomas.
Há passagens épicas na participação francesa na construção das Américas, às vezes contraditórias e quase sempre com significativo simbolismo histórico, como a fracassada tentativa de intervenção monárquica no México na década de 1860. 
Diante da expansão dos protestantes republicanos nos Estados Unidos, o governo católico da França tentou implantar um governo imperial mexicano, para restaurar o regime absolutista anterior, enquanto os estadunidenses estavam  ocupados demais com a sua guerra interna na Guerra de Secessão, entre 1861 e 1865.
De 1864 a 1867, Maximiliano de Lorena, que tinha relações bem próximas com o monarca brasileiro Dom Pedro II, foi persuadido, por um plano do rei francês Napoleão III e de um grupo de monarquistas mexicanos, a assumir a coroa do recém-fundado Segundo Império Mexicano. Mas os grupos rebeldes de republicanos locais conseguiram se organizar para resistir e assim o México também passou a viver a sua guerra civil.
Os Estados Unidos não reconheceram o "imperador" Maximiliano e exigiram a retirada das tropas francesas do território mexicano. O projeto monárquico francês foi se desmoronando aos poucos, até que Maximiliano acabou preso e condenado à morte.
Apesar dos fatores negativos de todo processo de colonização, os franceses sabiam valorizar os costumes locais de cada região, ao mesmo tempo em que exerciam sua ampla influência cultural, em atividades diversas como a literatura, o direito, a arquitetura, a música, o cinema, o teatro, as artes plásticas, o esporte, a gastronomia, o vestuário etc.
Na passagem do século XIX para o XX, no auge da chamada "belle époque" – antes da primeira guerra mundial – enquanto o brasileiro Santos Dumont voava pelos céus de Paris, a França vivia o seu apogeu, despontando como a principal referência civilizacional para todos os demais centros urbanos do mundo.
Nosso estado de Minas Gerais tem uma relação particular com o gigante europeu, já que a nossa bandeira, símbolo da Inconfidência Mineira, é uma homenagem aos ideais revolucionários franceses de 1789. 
Muito além da paixão pelos vinhos e pelos queijos, os mineiros firmaram com os franceses uma relação de compromisso e respeito, visando a preservação dos valores culturais históricos que estão na base da nossa formação ética e humanística.
Ligados, enfim, por uma parceria estratégica, a França e as três Américas empreendem atualmente uma ação convergente nas relações internacionais, como atores globais que cultivam os mesmos princípios democráticos e a mesma ambição de construir um mundo mais justo, livre, fraterno e culturalmente diversificado.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

CONDIÇÕES NATURAIS PARA A EXISTÊNCIA DE VIDA NA TERRA


O termo “ecologia” deriva de duas palavras gregas: “olkos”, que pode significar “casa” ou, em um sentido mais amplo, “ambiente”; e “logos”, que significa “ciência” ou “estudo”. É definido, portanto, de forma sintética, como “ciência do ambiente” ou, em um conceito mais completo, “a ciência que estuda as relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem” ou ainda “a ciência que estuda os ecossistemas”.
Ecossistema é todo o conjunto biológico formado por um ambiente físico, como o solo, a água e o ar, incluindo os seres vivos que o habitam. São exemplos simples de ecossistemas os campos, as florestas, os rios, os lagos, os mares etc. Ecologia, portanto, é o estudo das condições naturais que garantem a sobrevivência dos seres vivos e possibilitam o desenvolvimento e a proliferação das várias formas de vida no planeta.
A essência deste fenômeno complexo está condicionada ao entrelaçamento de um vasto conjunto de diferentes “módulos” ambientais. A conjugação de vários tipos de pequenos ecossistemas conduz à formação de ecossistemas maiores e ainda mais complexos, compondo desta forma a estrutura e o equilíbrio global do grande ecossistema planetário, a chamada “biosfera” terrestre.
A possibilidade de existência de vida no planeta Terra depende, portanto, de múltiplas atividades físicas e químicas que caracterizam a dinâmica estrutural da biosfera. Cada módulo ou sistema ambiental está equilibrado de forma a consumir uma determinada quantidade de gás carbono e água, produzindo a partir destes elementos um certo volume relativo de oxigênio e de matéria orgânica que serve de alimento para os seres vivos.
As variadas espécies da fauna e da flora desempenham papéis específicos nesta engenharia ambiental, atuando como entes interdependentes na produção permanente de energia para a vida, através de diversas estruturas de cadeias alimentares. Uma alteração em larga escala na qualidade ou na quantidade do consumo e produção destes elementos físico-químicos nos ecossistemas menores poderá desequilibrar todo o ecossistema planetário, comprometendo as condições necessárias para a preservação da vida na Terra.
A imensa diversidade de seres vivos é uma das principais características da Natureza. As comunidades biológicas habitam um espaço chamado "habitat", onde exercem as atividades de reprodução e consumo de energia (nicho ecológico). Os vegetais que se reproduzem por meio de flores, por exemplo, necessitam de alguma espécie de inseto para a sua polinização e a perpetuação da sua espécie. O extermínio deste tipo de inseto no meio ambiente vai provocar também a extinção destes vegetais e um desequilíbrio em cadeia de todo o ecossistema.
Os chamados “fatores ecológicos” de cada espécie são determinados pela forma como as populações de seres vivos trabalham e sobrevivem no seu habitat. Existem, portanto, determinados limites naturais de tolerância para a sobrevivência das espécies em um ecossistema integrado. A modificação das condições biológicas características dos habitats naturais irão prejudicar o desenvolvimento dessas espécies, e, em alguns casos, até levar à sua extinção.
A morte de grandes populações de insetos pela aplicação indiscriminada de pesticidas vai impossibilitar a polinização e a reprodução das plantas, provocando, por sua vez, a morte das aves que vivem do alimento produzido pelas plantas. E a morte das aves trará novas alterações no ecossistema, formando um círculo vicioso cada vez mais acelerado.
A destruição de ecossistemas pela intensidade e pelo acúmulo das atividades poluentes do ser humano é a principal causa de extinção e de perda da diversidade biológica do planeta. Este processo de degradação atinge também as populações humanas, já que a existência de uma grande biodiversidade é fundamental para garantir, por exemplo, a água que bebemos e o ar que respiramos, bem como para manter a produtividade do solo, entre outros fatores.
Por isso é tão importante cuidar da preservação de todas as espécies, dos peixes, dos anfíbios, dos répteis, dos insetos e de toda a fauna e flora, sob pena de quebrarmos os elos essenciais que nos mantêm vivos nos diferentes sistemas biológicos interagentes do nosso planeta. Serão imprevisíveis os perigos que poderão surgir para a vida na Terra se continuarem as alterações degenerativas das condições naturais do planeta em função das ações industriais das comunidades humanas.
Diante deste horizonte alarmante, a preocupação com a qualidade do ar e da água foi um dos pontos de partida para a construção de políticas de preservação, através da permanente aferição dos níveis de pureza destes elementos no meio ambiente. Apesar do ar e da água serem tão abundantes na Natureza, atualmente já podem ser considerados como bens escassos em algumas regiões do planeta, devido à sua má utilização, aos altos índices de poluição e à degradação permanente dos ecossistemas que garantem a produção das suas fontes naturais.
A cada dia que passa, aumenta a consciência social sobre a necessidade de cuidar destes dois bens fundamentais da Natureza - o ar e a água. Neste sentido, é preciso demarcar várias "reservas biológicas" para garantir a manutenção da diversidade genética das populações de seres vivos em seus habitats próprios, com a proteção dos componentes de ecossistemas inteiros, através de uma cadeia indissolúvel que sustente a permanência do fenômeno da Vida.
Os humanos são considerados os únicos seres inteligentes do planeta, porém são os que mais agridem e destroem o meio ambiente. No passado acreditava-se que os homens poderiam interferir nos elementos da Natureza, dominando e consumindo voraz e indefinidamente os seus recursos biológicos. 
Mas quando destruímos as coberturas vegetais, em um processo constante e indiscriminado de desmatamento das nossas florestas nativas, estamos reduzindo também o conjunto de matéria orgânica e o nível de produção de oxigênio na atmosfera, provocando assim o desequilíbrio biológico dos ecossistemas e a progressiva destruição das formas de vida existentes no planeta Terra.  

sexta-feira, 22 de março de 2024

AMADEU DE QUEIROZ / Textos selecionados

CAPÍTULO 3

Primeira parte do livro 
"Pouso Alegre: a origem da cidade 
e a história da sua imprensa" (1931)


COMO ESCREVO

Vou dar uma ideia. Logo que imagino um romance, crio os seus personagens e, antes do mais, faço uma relação de todos eles, com os nomes e as características de cada qual. Assim os personagens começam a existir desde logo. Vão adquirindo personalidade e não me deixam mais um instante sequer.
Como na vida, os personagens de um romance devem existir antes da ação. Devem ser uns tipos comuníssimos, mesmo porque não é possível inventar as figuras de uma obra de ficção. Devem existir, dissimulados em toda gente; devem ter os olhos de um, o talento e o nariz de outro, a astúcia e a feiúra de muitos, a maldade de quase todos. O que sai de minha pena existe por aí, senão na realidade, com certeza na imaginação de muita gente.
Quer saber de uma coisa? Quando escrevo, procuro imitar o incrustador que, aos pedacinhos, faz o admirável conjunto de sua obra. Aplico o mesmo processo aos homens, à paisagem, às paixões, a tudo que possa gerar emoções. 
A emoção não se transmite. O escritor não deve apresentar a sua obra integralmente realizada, nem dar um sentido definitivo às suas palavras, mas incitar, com a sua arte, a arte dissimulada dos leitores, realizada só por eles, conforme a cultura e a sensibilidade de cada um. Sejam o que forem, os escritores, talentosos ou geniais, só conseguirão, com a sua arte, despertar emoções dormentes.
O livro é fonte de emoções sempre novas. Passem as gerações e os leitores continuarão criando os seus mundos, inspirados no mesmo livro, no livro que não morre nem envelhece. Mas também há os leitores pretensiosos. Esses querem a toda força encontrar em nossos escritos intenções que jamais tivemos.
Acontece, às vezes, que me vem à lembrança uma palavra qualquer, que me parece expressiva ou interessante. Sinto um desejo enorme de utilizá-la. Então componho uma frase em que ela fica em bastante destaque. Feita a frase, corrijo-a, deixo-a bem apurada e aplico-a a um sentimento, a uma paisagem, a um tipo. Depois, acomodo-a a uma história.
O leitor não conhece essas ginásticas de trampolineiro. Supõe a criação enorme, descendo para a exiguidade da palavra. Portanto, já então, eu saí do meu rumo para cair no do leitor. E, assim, quanto mais incompreensível me apresento, mais engenhoso ele se torna para interpretar-me. E chega ao ponto de descobrir intenções que não tive, símbolos de que não me servi, argúcias filosóficas de que nunca dispus.

Fonte: PEIXOTO, José Benedito Silveira. Falam os escritores. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1971-1976.



domingo, 17 de março de 2024

VELHOS TEMPOS DA POLÍTICA MINEIRA

Nos tempos de Getúlio Vargas, no período posterior ao Estado Novo, os dois principais representantes políticos da oligarquia mineira eram Benedito Valadares do PSD e José Bonifácio de Andrada da UDN. No período da redemocratização pós-1946, quando ambos eram deputados federais, eles nutriam entre si uma intensa rivalidade nos debates parlamentares no Congresso Nacional.
Certa vez, em um encontro ao acaso no aeroporto de Belo Horizonte, tiveram a oportunidade de travar uma conversa rápida e amistosa, sem nenhum embaraço, bem ao estilo da tradicional política local.
Bonifácio estava chegando à capital mineira, enquanto Valadares se preparava para pegar o avião para o Rio de Janeiro, que naquela época era a capital nacional. 
Entre cumprimentos e cordialidades, Bonifácio perguntou:
- E você está indo pra onde, prezado Benedito?
Valadares então respondeu:
- Vou pra o Rio, caro Bonifácio!
E assim se despediram, cada um tomando seu rumo. E na saída do Aeroporto, Bonifácio comentou com o seu assessor:
- O Valadares pensa que me engana dizendo que vai pro Rio, só pra eu pensar que ele está indo pra São Paulo, mas eu sei que na verdade ele está indo pro Rio mesmo!

segunda-feira, 4 de março de 2024

ORIGENS OPERÁRIAS DO 8 DE MARÇO

No início de 1917, em plena ebulição da primeira grande guerra na Europa, ocorreu uma grande manifestação liderada pelas mulheres da cidade de São Petersburgo, na Rússia, para denunciar a situação de miséria da população e protestar contra a participação dos russos na guerra. Foi o marco inicial do processo político que resultou na Revolução de Outubro no final deste mesmo ano.
O protesto aconteceu em 23 de fevereiro do antigo calendário juliano da Rússia czarista, que corresponde ao 8 de março no calendário gregoriano adotado pelos soviéticos em 1918. A data foi oficializada pelos revolucionários russos para celebrar a força da mulher trabalhadora e heroica.
Alguns anos antes, em 25 de março de 1911, a cidade de Nova Iorque havia presenciado um evento trágico que entrou para a história dos Estados Unidos, quando as operárias de uma fábrica de tecidos fizeram um movimento de greve para exigir melhores condições de trabalho.
Entre as reivindicações das grevistas estavam a redução da carga diária de trabalho para 10 horas (as fábricas exigiam 15 horas), a equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber menos da metade do salário para executar o mesmo trabalho) e também o tratamento digno no ambiente de trabalho.
O movimento foi reprimido com excessiva violência. As mulheres que tinham ocupado o galpão da fábrica foram trancadas e ficaram presas, enquanto o galpão era criminosamente incendiado e 146 pessoas morreram carbonizadas, sendo 125 mulheres e 21 homens.
Na história do século XX há várias referências sobre a origem do dia internacional da mulher, rememorando ações repressivas semelhantes contra as mulheres ocorridas no mundo todo.
A partir da campanha internacional de luta pelos direitos das mulheres, o dia 8 de março foi oficializado pela ONU em 1975, após a revolução cultural da década de 1960 que colocou em definitivo a questão feminista na pauta política do mundo contemporâneo.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

MENSAGENS BÍBLICAS

A amplitude do acervo da literatura bíblica é tão excelente quanto os melhores livros escritos pelos maiores autores da literatura universal. A grande e fundamental diferença é que a leitura da Bíblia nos eleva a um nível de transcendência  de espiritualidade e proximidade ao Deus Criador   que os outros livros não conseguem atingir.
O blog MENSAGENS BÍBLICAS, Edição Standard/T, é uma forma de cultivar e estimular o prazer, a curiosidade, o costume e o aperfeiçoamento da leitura das Sagradas Escrituras, independentemente de qualquer tipo de cultura ou denominação cristã.

A nossa pregação não provém de erro, nem de intenções fraudulentas, nem de engano. Mas, como Deus nos julgou dignos de nos confiar o Evangelho, falamos, não para agradar aos homens, e sim a Deus, que sonda os nossos corações. Com efeito, nunca usamos de adulação, como sabeis, nem fomos levados por fins interesseiros. Deus é testemunha.
(I TESSALONICENSES 2; 3-5)

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

MULHERES NAS OLIMPÍADAS

 “Se uma mulher quiser pilotar um avião, ninguém tem o direito de impedi-la. Mas quando se trata de competições esportivas disputadas em público, a participação das mulheres deveria ser proibida” (Pierre de Coubertain).

Seguindo o modelo das Olimpíadas da Grécia Antiga e os ideais das disputas de cavalaria na Idade Média, o barão Pierre de Coubertain  um dos principais idealizadores das Olimpíadas modernas  tinha convicção de que o esporte não era apropriado para as mulheres.
O velho barão acreditava que os jogos olímpicos deveriam ser uma exaltação solene apenas às virtudes atléticas dos homens. O herói olímpico era uma personalidade do sexo masculino e às mulheres caberia o papel de aplaudir os vencedores. 
Coubertin, o primeiro presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), pensava que as mulheres atletas nunca atingiriam o nível esportivo dos homens e por isso elas não eram capazes de fazer uma modalidade evoluir. Ele não conseguiu perceber o imenso atrativo que a presença feminina poderia trazer para a grande festa dos jogos olímpicos.
Apesar da resistência na primeira Olimpíada de Atenas em 1896, algumas mulheres já começaram a participar na segunda edição dos jogos de Paris em 1900, no tênis, no golfe e no críquete. 
Com o tempo as mulheres foram finalmente conquistando o seu merecido espaço na história das Olimpíadas. Em 1912 elas participaram pela primeira vez da Natação, mas ainda eram proibidas de disputar as provas do Atletismo.
Para confrontar as proibições dos jogos oficiais, a francesa Alice Milliat organizou em 1922 uma versão feminina das Olimpíadas. Graças ao esforço de mulheres como ela, a Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF) teve que rever sua posição e passou a organizar também competições femininas.
A primeira vez que as mulheres participaram de um esporte coletivo em uma Olimpíada foi com o voleibol, nos jogos de Tokyo em 1964. E assim gradativamente elas conquistaram praticamente todas as modalidades, até mesmo alguns esportes polêmicos, como o halterofilismo e a luta greco-romana, por exemplo.
Na Olimpíada de Sydney em 2000, 40% de todos os atletas eram do sexo feminino. Dos 200 países participantes, apenas nove não contavam com a presença de mulheres, sendo que 53 países já levavam em suas delegações mais mulheres do que homens. 
No Rio de Janeiro em 2016 as mulheres eram 43% e na última edição dos jogos em Tokyo (2021) elas já chegaram a 49%. É bem provável que agora nos jogos de Paris em 2024 elas já sejam maioria.

A tenista inglesa Charlotte Cooper foi a primeira mulher a ganhar uma medalha de ouro na história dos jogos olímpicos.