quarta-feira, 13 de dezembro de 2023
OS RIOS E NÓS (Apolo Heringer)
terça-feira, 5 de dezembro de 2023
MUSAS DO ESPORTE - DARYA KLISHINA
quarta-feira, 8 de novembro de 2023
O EMPATE NO XADREZ
segunda-feira, 9 de outubro de 2023
PROJETO MÚSICA POR LAS MADRES
domingo, 16 de julho de 2023
JOGANDO POR MÚSICA
Djalma Santos e Garrincha com o uniforme do Milionários F. C. |
Em meados da década de 1970, numa dessas madrugadas geladas no inverno
da então pequenina cidade de Pouso Alegre, Sebastião Socó, o dono da única loja
de discos nas redondezas - a lendária Discoteca do Socó - foi acordado por um
insistente toque de campainha.
"Quem será a essa hora?", pensou o comerciante ao se levantar
para atender à porta, ainda sonolento e já tremendo de frio:
– Quem é?
– Sou eu, o Licínio – respondeu uma voz lá fora.
Então Socó abriu a porta e já perguntou assustado:
– O que foi? O que aconteceu?
– Vai me desculpar, seu Socó - disse Licínio - mas só o senhor pra me
ajudar nessa emergência.
Licínio Rios era um empresário da cidade que promovia vários eventos e naquele fim de semana ele estava trazendo o time do Milionários F. C. - onde
jogava o grande Mané Garrincha - para fazer um jogo festivo na cidade.
Depois que encerrou a carreira profissional no final da década de 1960,
Garrincha passou a fazer partidas de exibição com o Milionários, que era
formado por atletas veteranos e alguns convidados que ainda estavam em atividade.
– Desculpe acordá-lo a essa hora, mas é que estou precisando
urgentemente de um toca-fitas e só mesmo o senhor pode conseguir um – suplicou
Licínio ao Socó.
– Mas isso tinha que ser agora, Licínio, numa madrugada fria como essa?
– Socó reclamou aborrecido.
– Sabe o que é, seu Socó, o nosso querido Garrincha está aqui na cidade,
o senhor deve saber. Ele está hospedado no Pouso Alegre Hotel, mas não consegue
dormir sem ouvir música.
Socó estava perplexo, enquanto Licínio prosseguia:
– Então ele me pediu um toca-fitas e eu não tinha como arrumar um, daí
lembrei do senhor. Não posso recusar um pedido do grande Garrincha, o senhor entende.
Garrincha veio um dia antes do jogo para pernoitar em Pouso Alegre.
Dizem que ao chegar de carro, logo na entrada da cidade ele teria comentado:
– A criançada deste lugar deve ser levada demais; perigosa mesmo.
– Por que você está falando isso, Mané? – alguém perguntou intrigado.
– Não viu a placa? Estava escrito: Cuidado com as nossas crianças! – Garrincha
disse com um sorriso irônico.
E aquela noite não faria justiça ao nome da cidade se Mané não pudesse
ouvir as fitas que ele trouxera na viagem. Não teve jeito; Socó teve que abrir
a sua loja naquela madrugada só para satisfazer o pedido do craque.
Garrincha era realmente fanático por música. Nos áureos tempos do
Botafogo e da Seleção Brasileira, ele sempre levava consigo uma vitrolinha com
uma porção de discos para ouvir nas horas de lazer.
Nas Copas de 1958 e 1962, diversas marchinhas de carnaval e canções
populares foram compostas em homenagem ao folclórico ponta-direita. E uma das
maiores paixões da sua vida foi a grande cantora Elza Soares, com quem foi
casado por 15 anos.
O fato é que Garrincha não conseguia dormir sem ouvir música. Algumas
das suas preferências eram Emilinha Borba, Ângela Maria, Frank Sinatra e, é
claro, Elza Soares.
E quem o viu atuar nos gramados não tem dúvida em afirmar: Garrincha realmente jogava por música.