CARTA DE CONCESSÃO DE SESMARIA A JOÃO DA SILVA

“Luís da Cunha Menezes, etc.
Faço saber aos que esta carta de sesmaria virem que atendendo o que me representou por sua petição João da Silva Pereira, morador na Freguesia de Santana do Sapucaí, em terras que cultiva há mais de trinta anos por compra que então delas fez a Antônio de Araújo Lobato, primeiro povoador daquele sertão, e outras mais, povoadas e cultivadas ao mesmo tempo daquelas por Felix Francisco, cujas terras se verificam entre os rios Sapucaí-Mirim e Sapucaí-Assu, tanto umas como outras em que se acha atual cultura desde o referido tempo; e porque as quer possuir na forma das Reais Ordens, pedindo-me por fim e conclusão de seu requerimento lhe concedesse uma sesmaria de três léguas de comprido e uma de largo para poder titular as sobreditas terras compradas por de outra forma o não poder fazer por terem extensão grande, sendo a maior parte campos de criar o gado vacum e cavalar com que se acha o suplicante nelas estabelecido, principiando-se a mediação no fim do Espigão donde finda a barra de um e de outro Rio, correndo sempre pelo dito Espigão acima, até onde findarem as terras que o suplicante comprou, que é o primeiro Ribeirão acima do Córrego chamado "dos Macacos", que deságua para o Sapucaí-Mirim e do outro com um Córrego chamado "Lagoinha", que deságua para o Sapucaí-Assu, fazendo-se o Pião, donde mais conveniente for, por ser uma paragem quase sertão inda até o presente, cuja concessão a requer com preferência a outra qualquer na dita paragem, tudo na forma das ordens de Sua Majestade, etc, etc..."

*A carta torna incontestável a demarcação referida, não só pela coincidência hidrográfica, mas principalmente pelas seguintes razões: da vargem dos dois Sapucaís ao Ribeirão das Anhumas, a distância é de três léguas; da mesma barra ao Ribeirão da Estiva, no Sapucaí-Grande, é de uma légua, exatamente a extensão demarcada na sesmaria. A posição dos ribeirões coincide também e, por fim, não há outro espigão, a não ser o da Serra do Gaspar, por onde possa correr a demarcação de um dos lados da sesmaria.
O fato de se dizer no documento oficial que as terras ficam entre os rios Sapucaí-Assu e Mirim - "entre um e outro" - explica-se em vista das cartas geográficas de 1767, pelas quais se verifica que o conhecimento que outrora se tinha da direção dos dois rios, era o contrário da que é cientificamente determinada nos mapas de hoje. Nas cartas de 1767 observa-se que a curva formada pelos dois rios, na sua junção, era o inverso da curva determinada atualmente; invertendo-se, pois, a direção real dos ”sapucaís”, tem-se que a Sesmaria ficava entre um e outro (Amadeu de Queiroz).

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