quinta-feira, 16 de maio de 2024

OS RIOS E NÓS (Apolo Heringer)


As águas dos rios são informações que fluem; este axioma nos traz o método da gestão política, econômica e ambiental do Brasil pelos "estados naturais" ou bacias hidrográficas. As águas revelam a história geológica e social de cada região e de como ocorre a ocupação humana. 
Tem sentido a metáfora "o espelho d'água mostra a nossa cara", pois revela a mentalidade civilizatória expressa na economia das diversas épocas e regiões. A lama que tomou conta do rio Doce e Paraopeba confirma assim, de forma abrupta, o significado da expressão "espírito do vale". 
Na forma lenta do cotidiano agrícola e industrial, acontece sempre o mesmo resultado ao longo do tempo. A permanente destruição colonial da mata Atlântica na bacia dos rios Doce – incluindo o genocídio indígena a partir do final do século XVIII  foi o maior impacto já ocorrido na região. 
A colonização político-religiosa, com catequese e gado, fez o mesmo no vale do São Francisco. Todos os nossos rios estão morrendo porque as atividades econômicas estão os matando. E não seria necessário este tipo de economia. Antes do ser humano povoar a Terra não era assim. Não faltava comida para todos, era vida sem lixo e sem esgoto. 
Com a palavra os economistas! Inovar sim, mas destruir a riqueza matando as raízes da vida, NÃO! A água, como eixo elementar, está no centro da questão ambiental e da gestão econômica. Incluindo a questão das emissões. 
Ela tem um papel central no monitoramento da gestão política e socioambiental, da mentalidade predominante, na mobilização social, na conservação do solo e da biodiversidade. Assim o mapa hidrológico por bacias permite organizar as nossas atividades de política ambiental para reecologizar a economia mundial e transformar a mentalidade humana.
Se trabalharmos por questões locais e temáticas fragmentadas, perdemos o sentido maior da luta e caímos no antropocentrismo. E o antropocentrismo no Brasil significa interesses do agronegócio e da extração mineral, exportadores de commodities primárias ou com pequeno valor agregado e a produção industrial de baixa tecnologia. Não o atendimento das necessidades básicas dos seres comuns. 
Este esquema de gestão traz como consequência a "corrupção branca" da maioria das ONGs e lideranças do setor, em sua luta pela sobrevivência, fazendo do meio ambiente um meio de vida.

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