domingo, 2 de janeiro de 2022

POVOAMENTO DO SUL DE MINAS - O RIO MANDU

O Mandu é um pequeno rio de cerca de quarenta e cinco quilômetros de percurso. Nasce em um dos vales formados pelas vertentes da Serra do Abertão, e tomando o rumo NE, atravessa parte da bacia do Sapucaí, lançando-se no Sapucaí-Mirim.
A um quilômetro, mais ou menos, acima de sua foz, passava, em 1750, o caminho de São Paulo a Vila Rica. Na parte NO desse caminho - nas encostas da Serra do Gaspar, que morrem à margem esquerda do Mandu - estende-se a vasta região de campos e de matas; é fértil, aprazível e de um clima muito ameno, apesar da vizinhança de várzeas dilatadas e alaguiças que se estendem para o sul, à margem direita do rio, tomando largamente a direção do leste. Aí dava-se o ponto de intercessão do antigo caminho com o rio, e hoje está situada a cidade de Pouso Alegre.
A observação detida da localidade e a existência de numerosos vestígios levam à convicção de que o primitivo caminho, ao aproximar-se do rio, passava pelo espigão do morro chamado Alto das Cruzes, e descia pela encosta da colina em que fica o bairro das Taipas, ao longo do córrego, até inserir-se no rio, onde termina a rua antigamente chamada da Cadeia Queimada.
Nesse ponto começou a edificação do povoado.
Tendo-se em vista a natureza ao Norte do rio, verifica-se que o estabelecimento principal da povoação - a fazenda de criar - era situada nas fraldas do monte central, ladeado por extensos brejais cortados por dois córregos até a margem do Mandu. A localização dessa fazenda deve coincidir com o centro da cidade, nas imediações da Praça Senador José Bento.
Via-se, então, como ainda se vê hoje em muitos lugares, a fazenda situada na encosta e, ao longe, na margem do rio, um pequeno núcleo de casas, rancho e venda destinada ao comércio com viajantes.
Quem primeiro habitou as margens do Mandu foi o aventureiro Antônio de Araújo Lobato, mais ou menos em 1750, logo depois da expedição de Francisco Martins Lustosa e João Veríssimo de Carvalho, ao longo desse rio e do Cervo.
Araújo Lobato, como todos que se apossavam de terras nos sertões, não foi jamais incomodado pelo Governo, o qual, tendo as suas atenções voltadas para a extração do ouro, tolerava os raros aventureiros que se estabeleciam nos campos e nas matas para se dedicarem a lavoura e criação de gado.
Alguns anos depois de Araújo Lobato, um outro aventureiro de nome Felix Francisco também se apossou de terras no mesmo sertão.
Em geral esses aventureiros eram homens de haveres, senhores de escravos, e logo que se apossavam de terras, nelas construíam moradas, abriam plantações, fechavam currais, organizando verdadeiras fazendas. Como acontecia normalmente por esse tempo, consentiam ou procuravam os fazendeiros instalar moradores em suas terras, os quais, trabalhando para si, embora em campo alheio, concorriam para a prosperidade das fazendas, geralmente conhecidas por se localizarem ao longo das estradas.
Entre os habitantes da primitiva fazenda, figurava João da Silva Pereira, que, em 1755, adquiriu por compra as terras posseadas por Lobato e por Felix Francisco. Como, porém, a posse de vendedores não se achava legitimada, João da Silva Pereira, depois de cultivar as ditas terras por mais de trinta anos, requereu ao governo de Luiz da Cunha Menezes a concessão de uma sesmaria de três léguas de comprimento por uma de largo, a qual compreendia integralmente as terras por ele adquiridas.
A sesmaria lhe foi concedida em 14 de junho de 1785. E a demarcação dela abrange toda a paragem que começa, por um lado, na vargem da barra dos dois Sapucaís, sobe pelas vertentes da Serra do Gaspar, onde está edificada a cidade e segue por espigões até descer no ribeirão das Anhumas; por outro lado atravessa o Sapucaí, terminando no ribeirão da Estiva, afluente do mesmo rio.
Verifica-se claramente pela carta de sesmaria doada a João da Silva que a primeira sesmaria concedida no sertão do Mandu foi a sua, que adquiriu de Araújo Lobato e Félix Francisco - primeiros habitantes da paragem - as terras cuja posse legitimou por meio da referida concessão.
Durante os trinta anos que mediaram entre a compra e a posse legal de João da Silva Pereira, desenvolveu-se o povoado, cuja origem foi o estabelecimento de Araújo Lobato no Sertão do Sapucaí.
Em 1766 já era o pouso do Mandu relativamente grande, visto que nessa data ali estabeleceu o Governo um Registro Fiscal para o ouro que saía de Santana e de Ouro Fino.

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